segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Marias - Parte I

P

or um momento podia sentir que meu coração batia no mesmo ritmo  do dela, e foi então que percebi que já era tempo de partir.

Para quem não me conhece, meu método é esse: enquanto o que houver for tão somente atração, sem nenhum bom sentimento, permaneço assim, estará sempre presa. Quando, enfim ceder, e me amar, desapareço, e deixo claro que tudo não passou de pura e simples quimera, unilateral, e para mim inexistente e indesejada.
Não devo mais prolongar sobre meu método de trabalho, isso acabaria por assustar-te e porá fim ao objetivo do texto: Fazer-te ler. Vamos à história.
 Tudo aconteceu em uma barulhenta e ensolarada manhã de segunda. Talvez nem o dia, nem o clima combine com o que vivi, ou o que sou; se ambos fossem controlados por mim, estaríamos em uma manhã de sábado nebulosa e temperada com um pouco de chuva fria, típicas das cidades.
Entre os lençóis escutei as palavras mais traiçoeiras e dolorosas que poderiam ser inventadas pelo homem: - Eu te amo.
Atordoado com as tão desejadas palavras, mas para mim singularmente cruéis e amargas, senti que meu dever estava cumprido, e que já era tempo de voar, e escalar uma outra, talvez mais alta montanha.
Assim que Maria notou minha cara de espanto ao receber suas palavras, ditas quase silabicamente, sorriu, os mais doces dos sorrisos, aquele que parecia destronar o posto de Maria, de tão doce que o era. Deus, me perdoe, mas naquele momento a adoração foi tanta, que me senti totalmente entregue, absolutamente doado, e irrevogavelmente apaixonado.
Tive o ímpeto de correr, de fugir ainda nu, para qualquer lugar. Longe o bastante para não vê-la mais. Para não ver ninguém, nem coisa alguma. Correr o forte e longe o bastante para me perder de mim mesmo. 
Mas covarde que sou, não movi meu corpo suado daquela cama que já me parecia uma fogueira para inocentes e culpados de bruxaria. E por mais que fosse considerado o réu, nunca saberia se me destruiriam por ser inocente, ou o outro extremo, que já temo dizê-lo.
O meu torpor, fez com que ela se livrasse de meus braços imundos e fracos, mas corajosa que eu, partiu. A perdi de vista, quando bateu a porta do banheiro.

5 comentários:

  1. Quem diria...Sensualismo nos escritos de Thiago!!

    Muito bem elaborado.

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  2. Como sempre um artista, traduzindo a veracidade de uma vida inexistente para um folha de papel, com muito brilhantismo e verdade.... sou seu fã e seu amigo

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  3. Escrevendo sentimentos como gente grande... tenho orgulho de você!

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  4. Oi, Thiago.

    Interessante seu texto. Gostei do nome de sua personagem: Maria. Simplicidade impregnada. Paradoxo? Contradição? Não sei. Já quis partir mas não consegui sair da cama.

    Ótimo 2011 para nós, xará: com paz, sempre.

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  5. gosto muito!
    retribuindo a visita!
    espero mais vezes e prometo escrever mais,
    escreva tb!
    beijos

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