domingo, 19 de janeiro de 2014

random

Minha poesia não cabe em livros
Ela extrapola meus olhos
Derrete em mim
E derrete a mim mesmo
caminha ao meu lado
No ônibus
na praça
E no mercado
Sonha em montar cavalos
E sair do facebook
Minha poesia ainda espera
O bom amigo
Espera ser poesia
Espera eu ser poeta
O sonho da minha poesia é ser livre
O sonho da minha voz é ser leve
Porque minhas palavras afundam
Minhas palavras sempre caem em mim mesmo
Ando cansado de andar tanto
Em círculos e circos
Palhaço nos ônibus
Minha poesia me acompanha
Me aperta, me roça
Esbarra em mim
E desce no próximo ponto
Danada poesia, vai sozinha
Me deixa vazio. Sem perspectiva.
Não ultrapasso a faixa amarela
Sem as asas da poesia
minhas pernas param
Não me movo
A multidão me move
me guia
E a multidão não espera
Sou arrastado, desolado
Encontro meu quarto
Por carinho do acaso
Minha poesia teme o homem
Teme o sol
e prefere ficar em casa
Minha poesia não cabe em livros
Tão pouco nos meus bolsos
Sonha em ser livre
E é mais livre que eu
Me deixa quando quer
Volta se quiser
É uma passageira
No ônibus que não dirijo
A encontro somente
Por carinho do acaso
Em esquinas que me desconheço
Somente quando me aceito
É que então me vejo

sábado, 4 de janeiro de 2014

prefiro a poesia que
ao invés de rima
é vida
a sofrida poesia (vida?)
rasga o papel
e é queimada
sempre que a depressão passa e se arruma o quarto
prefiro a poesia guardada,
a poesia indireta
do que a planejada
a estudada
a escrita pra ganhar
concursos e likes

só é poesia quando lava a alma
quando o papel absorve cada pecado
desejo
anseio
e fome

a poesia foge do espetáculo
do exibicionismo e das palmas
é poesia
quando
individualmente
salva

é para o outro
no livro, no vídeo, na tela
na medida em que o outro
também é poeta

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ismália *



Em noite tão estrelada
Me sinto a lua, vazia
Caminhei até tua porta, amada
Nesta casa que um dia foi minha

Te vi, da janela, jogar-se
Na calçada te encontrei sozinha
Ausente de razão, de cuidado
Joguei-me no chão, ao teu lado
Assim, de algum modo te tinha

Beijei tua mão tristemente
Com uma lágrima salguei teu rosto pálido
Me vi só e somente
Me prendi ao teu peito 'inda cálido

Mas nenhum sinal de vida
Nenhum batimento idiota
Abraçara, de certo, a partida
Aceitara, de fato, a derrota

Para sempre longe de mim
Eternamente longe da razão
Como, Ismália, deixaste-me assim?
Para sempre sem solução?



*Ler o poema "Ismália" de Alphonsus de Guimaraens

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Vaidade

Poesia, na verdade, é só saudade 
De um momento que se pretende eternizar
Minha arte, de fato, é vaidade
De mostrar que me aprovo por te amar
Meu sacrifício, toda noite, é sempre belo
São algumas rimas que escrevo pra te dar
Mas toda manhã, quando me leio
Que surpresa! 
Da ingenuidade que, às vezes, deixo me tomar 
De achar que com papel e tinta velha 

Eu mude sua forma de amar


Sobre perdão, culpa e silêncio

Viajou quilômetros para encontrá-lo. Não trazia nada nas mãos, além de uma à outra e a grande vontade de fechá-las num abraço. E os pés, já fracos pela fome do terceiro dia sem ingerir um só pão, se encontravam firmes somente pelo dever – consigo mesmo- de se desculpar. Bateu descompassadamente no portão com toda sua força. Do outro lado, como se entendendo o clamor das batidas, foi em direção à maçaneta sem fazer nenhuma pergunta. Puxou-a experimentando um misto de alegria e desconforto, e viu, diante de si, os olhos de quem já não dormia bem. Procurou uma palavra, mas todas lhe pararam na garganta. Decidiu, somente, abrir passagem e com um olhar tênue convidá-lo a entrar. Com passos lentos e trêmulos, conseguiu passar a porta, e no terreno até os cães pareciam respeitar sua dor e, pela primeira vez, não o lamberam. Com a força que ainda lhe restara olhou demoradamente aquele rosto que, dias atrás estava em chamas, e aquela boca que proferira palavras que lhe roubara o apetite. Manteve o olhar e uma lágrima, apenas, escorreu-lhe pelo olho direito. Entendendo a súplica silenciosa, o outro o envolveu em um abraço, o que, ao primeiro, pareceu bem mais confortável depois de dias em abstinência.  Por um momento, procurou forças para dar as mãos, mas seus membros estavam imobilizados. O abraço não acolhia com força, eram os seus braços que não o obedeciam. Inspirou, então, o máximo que seus pulmões poderiam suportar a fim de sentir aquele momento por completo. Se o perdão tivesse cheiro, cheiraria amadeirado e se tivesse um preço, custaria toda uma vida.

domingo, 8 de setembro de 2013

Livre

Prefiro meu descaminho
O puro erro de tudo que eu faço
Que seu pensamento mesquinho
E a fria retidão do teu passo

Que a vida seja bela, ainda que breve
E que encontremos todo o amor devido
Como a criança que anda tão leve
Não tem pelo mundo o coração dividido

A vitória do erro, do poema não publicado
Do riso proibido, do beijo roubado
A vitória da vida, da intuição

Desfazendo os laços 
Da tua carne amarrada
Que libera teus sonhos
E te tira do chão

Prefiro meu caminho, um tanto inseguro
Que a tua certeza
Teu sonho impuro

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Explicação e penitência

Te amava nas horas de tédio 
Na dificuldade de me ver sozinho
Te amava por carência
Minha sede de carinho
É que ando muito triste
Muito pouco entusiasmado 
E te amar é um remédio
A penitência ao meu pecado
De te querer por perto 
Sem estarmos lado a lado