segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Vaidade

Poesia, na verdade, é só saudade 
De um momento que se pretende eternizar
Minha arte, de fato, é vaidade
De mostrar que me aprovo por te amar
Meu sacrifício, toda noite, é sempre belo
São algumas rimas que escrevo pra te dar
Mas toda manhã, quando me leio
Que surpresa! 
Da ingenuidade que, às vezes, deixo me tomar 
De achar que com papel e tinta velha 

Eu mude sua forma de amar


Sobre perdão, culpa e silêncio

Viajou quilômetros para encontrá-lo. Não trazia nada nas mãos, além de uma à outra e a grande vontade de fechá-las num abraço. E os pés, já fracos pela fome do terceiro dia sem ingerir um só pão, se encontravam firmes somente pelo dever – consigo mesmo- de se desculpar. Bateu descompassadamente no portão com toda sua força. Do outro lado, como se entendendo o clamor das batidas, foi em direção à maçaneta sem fazer nenhuma pergunta. Puxou-a experimentando um misto de alegria e desconforto, e viu, diante de si, os olhos de quem já não dormia bem. Procurou uma palavra, mas todas lhe pararam na garganta. Decidiu, somente, abrir passagem e com um olhar tênue convidá-lo a entrar. Com passos lentos e trêmulos, conseguiu passar a porta, e no terreno até os cães pareciam respeitar sua dor e, pela primeira vez, não o lamberam. Com a força que ainda lhe restara olhou demoradamente aquele rosto que, dias atrás estava em chamas, e aquela boca que proferira palavras que lhe roubara o apetite. Manteve o olhar e uma lágrima, apenas, escorreu-lhe pelo olho direito. Entendendo a súplica silenciosa, o outro o envolveu em um abraço, o que, ao primeiro, pareceu bem mais confortável depois de dias em abstinência.  Por um momento, procurou forças para dar as mãos, mas seus membros estavam imobilizados. O abraço não acolhia com força, eram os seus braços que não o obedeciam. Inspirou, então, o máximo que seus pulmões poderiam suportar a fim de sentir aquele momento por completo. Se o perdão tivesse cheiro, cheiraria amadeirado e se tivesse um preço, custaria toda uma vida.

domingo, 8 de setembro de 2013

Livre

Prefiro meu descaminho
O puro erro de tudo que eu faço
Que seu pensamento mesquinho
E a fria retidão do teu passo

Que a vida seja bela, ainda que breve
E que encontremos todo o amor devido
Como a criança que anda tão leve
Não tem pelo mundo o coração dividido

A vitória do erro, do poema não publicado
Do riso proibido, do beijo roubado
A vitória da vida, da intuição

Desfazendo os laços 
Da tua carne amarrada
Que libera teus sonhos
E te tira do chão

Prefiro meu caminho, um tanto inseguro
Que a tua certeza
Teu sonho impuro