Viajou
quilômetros para encontrá-lo. Não trazia nada nas mãos, além de uma à outra e a
grande vontade de fechá-las num abraço. E os pés, já fracos pela fome do
terceiro dia sem ingerir um só pão, se encontravam firmes somente pelo dever –
consigo mesmo- de se desculpar. Bateu descompassadamente no portão com toda sua
força. Do outro lado, como se entendendo o clamor das batidas, foi em direção à
maçaneta sem fazer nenhuma pergunta. Puxou-a experimentando um misto de alegria
e desconforto, e viu, diante de si, os olhos de quem já não dormia bem.
Procurou uma palavra, mas todas lhe pararam na garganta. Decidiu, somente,
abrir passagem e com um olhar tênue convidá-lo a entrar. Com passos lentos e
trêmulos, conseguiu passar a porta, e no terreno até os cães pareciam respeitar
sua dor e, pela primeira vez, não o lamberam. Com a força que ainda lhe restara
olhou demoradamente aquele rosto que, dias atrás estava em chamas, e aquela
boca que proferira palavras que lhe roubara o apetite. Manteve o olhar e uma
lágrima, apenas, escorreu-lhe pelo olho direito. Entendendo a súplica
silenciosa, o outro o envolveu em um abraço, o que, ao primeiro, pareceu bem
mais confortável depois de dias em abstinência. Por um momento, procurou
forças para dar as mãos, mas seus membros estavam imobilizados. O abraço não
acolhia com força, eram os seus braços que não o obedeciam. Inspirou, então, o
máximo que seus pulmões poderiam suportar a fim de sentir aquele momento por
completo. Se o perdão tivesse cheiro, cheiraria amadeirado e se tivesse um
preço, custaria toda uma vida.
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