segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Sobre perdão, culpa e silêncio

Viajou quilômetros para encontrá-lo. Não trazia nada nas mãos, além de uma à outra e a grande vontade de fechá-las num abraço. E os pés, já fracos pela fome do terceiro dia sem ingerir um só pão, se encontravam firmes somente pelo dever – consigo mesmo- de se desculpar. Bateu descompassadamente no portão com toda sua força. Do outro lado, como se entendendo o clamor das batidas, foi em direção à maçaneta sem fazer nenhuma pergunta. Puxou-a experimentando um misto de alegria e desconforto, e viu, diante de si, os olhos de quem já não dormia bem. Procurou uma palavra, mas todas lhe pararam na garganta. Decidiu, somente, abrir passagem e com um olhar tênue convidá-lo a entrar. Com passos lentos e trêmulos, conseguiu passar a porta, e no terreno até os cães pareciam respeitar sua dor e, pela primeira vez, não o lamberam. Com a força que ainda lhe restara olhou demoradamente aquele rosto que, dias atrás estava em chamas, e aquela boca que proferira palavras que lhe roubara o apetite. Manteve o olhar e uma lágrima, apenas, escorreu-lhe pelo olho direito. Entendendo a súplica silenciosa, o outro o envolveu em um abraço, o que, ao primeiro, pareceu bem mais confortável depois de dias em abstinência.  Por um momento, procurou forças para dar as mãos, mas seus membros estavam imobilizados. O abraço não acolhia com força, eram os seus braços que não o obedeciam. Inspirou, então, o máximo que seus pulmões poderiam suportar a fim de sentir aquele momento por completo. Se o perdão tivesse cheiro, cheiraria amadeirado e se tivesse um preço, custaria toda uma vida.

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